Queda populacional está ligada à ausência de políticas públicas
- Jivago França
- 16 de nov. de 2019
- 4 min de leitura

A Tribuna do Vale divulgou na semana passada um estudo sobre a projeção populacional dos municípios do Paraná apresentada pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes) que apontou que até 2040 o Norte Pioneiro vai sofrer uma retração de 27 mil habitantes. Os dados ainda projetam que em 2040 a população de idosos será 92% maior que a de jovens. Com base nisso, economistas da região repercutiram sobre o assunto, associando esta queda diretamente à falta de políticas públicas na região de incentivo aos jovens para não migrarem aos grandes centros.
O professor universitário Nilson José Martins, que ministra a disciplina de economia política e coordena o curso de Ciências Contábeis, justifica que a principal causa dessa queda na população se dá pela migração da população do interior para as grandes cidades em busca de emprego. Essa demanda por empregos é resultado do êxodo rural que a região apresentou nas últimas décadas. “Um dos motivos que justifica essa redução do trabalho rural é a mecanização, que está cada vez mais moderna. Essa migração causa um grande impacto econômico e social nos municípios”, disse.
Martins detalha que a queda na população é um efeito dominó para o impacto econômico, pois, há uma diminuição na demanda por bens e serviços e causam efeitos negativos na geração de empregos, seja na área urbana, no setor de indústria, comércio ou na área rural. Como consequência haverá a redução do consumo que leva as empresas a investirem cada vez menos no interior. “O maior entrave para novas empresas se instalarem na região ou para que as já existentes ampliem sua produção, é a mão de obra especializada, que se torna cada vez mais escassa, pois, a população que acaba ficando no interior é formada por pessoas idosas, já aposentadas e de pessoas com baixo grau de instrução. Por outro lado a previsão nos grandes centros é o inchaço urbano que faz com que os serviços públicos sejam cada vez mais escassos, e as pessoas à margem da cidadania”, detalhou.
Já o economista Luiz Alberto Fantineli Junior comenta que os fatores de produção inseridos na base da economia são: a tecnologia, o capital, a terra e os recursos humanos (trabalho e capacidade empresarial), e, normalmente o êxodo populacional se dá principalmente pela oportunidade, falta de emprego e melhorias de vida. “A queda projetada pelo Ipardes de aproximadamente 8,10% reflete além de questões nacionais, eu diria, a falta de políticas públicas de geração de oportunidade de trabalho e de desenvolvimento em nossa região. Ainda segundo o Ipardes a projeção do número de idosos aumentará muito e a oferta de mão de obra a disposição caíra significativamente, e diminuirá o volume de moeda circulando no comércio das cidades”, justificou Fantineli.
Os municípios estão preparados?
Para Fantineli, a projeção mostra que os repasses da educação e o da saúde sofrerão também significativas reduções orçamentárias e certamente o setor do comércio é o que mais deve ter sofrer um impacto negativo com essa "modificação" demográfica. Como a base industrial do Norte Pioneiro é reduzida, resta acreditar que a agropecuária e a agricultura continuarão sendo o esteio de da região, gerando renda e trabalho, mas, proporcionalmente empregando cada vez menos, pois a tecnologia é fundamental para a sua competitividade, porém essa elimina postos de trabalho.
Portanto, o economista acredita que o apoio a agricultura e pecuária da região é fundamental. “Além disso, é necessária a atenção aos incentivos ao desenvolvimento da agroindústria local, que através das cooperativas têm oportunidade de desenvolver produtos industrializados com base em nossa produção agrícola e pecuária. O turismo é outra modalidade que nossa região pode explorar muito. Apenas dessa forma os municípios de nossa região terão chances de ficar um pouco menos dependentes dos governos estaduais e federais, e poderão oferecer a sua população condições melhores de vida. Pegar o temos de bom e transformar em algo ainda melhor, talvez seja a nossa única chance”, finalizou o economista.
FALTA DE VISÃO
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Santo Antônio da Platina José Alex Gonçalves Figueira adverte que a pesquisa do Ipardes ainda pegou leve na queda populacional do Norte Pioneiro, pois, para ele, a proporção pode ser muito maior nos próximos anos. Uma das principais questões é a falta de visão das lideranças da região em buscar incentivar indústrias ou trazer extensões da Universidade Federal ou Estadual para movimentar a economia. “É preciso mudanças de conscientização da política de Santo Antônio da Platina para o pleno desenvolvimento, ter mais atrativo para os jovens e evitar o êxodo para os grandes centros. Trazendo mais jovens, temos mão de obra, movimentação no comércio e assim sucessivamente”, disse.
Nos últimos tempos foi visível a crise econômica, e, em Santo Antônio da Platina, por exemplo, há vários estabelecimentos comerciais que acabaram fechando. “A internet está cada vez mais forte e com isso as vendas online tendem a aumentar cada vez mais, isso consequentemente causa uma queda brusca na oferta de emprego. Os preços estão baixando aos poucos porque ninguém mais compra”, comentou.
Alex acredita que Santo Antônio deveria se fortalecer mais no setor industrial, com a criação de um parque e incentivar as empresas para melhor desenvolvimento econômico e trazer mais cursos gratuitos para o município. “Temos a Universidade Estadual do Norte do Paraná na cidade ao lado, somos a maior cidade do Norte Pioneiro, por que não trazer uma extensão pra cá?”, questionou.
Em Jacarezinho, o presidente acredita que se deve lutar pelo curso de medicina nos próximos anos, já que está funcionando o curso de odontologia e a universidade está construindo um prédio novo. “Devemos nos espelhar em cidades como Siqueira Campos e Ibaiti que apostaram nas indústrias e conseguiram crescer mais proporcionalmente que cidades maiores. Enquanto não mudar a forma de pensar, continuaremos enfrentando essa retração populacional”, pontuou.
Foto: Êxodo populacional se dá principalmente pela falta de oportunidade, como emprego ou expectativa de melhoria de vida - Antônio de Picolli
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