Confundido com túmulo e esconderijo de ouro, marco geodésico intriga moradores
- Jivago França
- 16 de nov. de 2019
- 3 min de leitura

Algumas pessoas acham que é um tumulo, outras até pensam que pode haver ouro enterrado abaixo deles, mas estas estruturas em forma de pilar espalhadas por todo Brasil tem um significado bem maior do que se imagina.
Em Calógeras, distrito pertencente a Arapoti, está um dos 13 marcos VT (vértice de triangulação) da região. Instalado pelo Exército Brasileiro em 1948 e conservado até hoje, o imponente e ereto pilar geodésico se destaca no ponto mais alto da fazenda, que margeia a rodovia PR-092.
A proprietária das terras, Regina Nascimento Santos, conta que muitas histórias surgiram a respeito do “tal marco”. “Estas terras são minhas há cerca de 20 anos e, desde então, aquela estrutura se manteve lá, nunca tive a curiosidade de saber para que servia, mas preferi manter, pois não onerava em nada o espaço da plantação.
Mas muita gente dizia que poderia ter ouro lá, também que poderia ser um poço de petróleo”, relembrou. Um ponto de referência Os chamados marcos geodésicos, como este da foto, foram fixados em sua maioria na década de 40 e 50, enquanto o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estabelecia uma rede cartográfica para nortear a posição de um terreno e interligar o território brasileiro.
Na época, o instituto contou com a colaboração do Exército Brasileiro e também do antigo ITCF (Instituto de Terras, Cartografia e Florestas), criado em 1923, atualmente denominado IAP (Instituto Ambiental do Paraná).
Trocando em miúdos, pode-se afirmar que estes marcos foram os responsáveis pela localização dos municípios e delimitações de cada terreno que se tem disponível hoje em mapas. Documentos estes, que foram registrados através de muito trabalho no levantamento de informações calculadas, para que hoje a população pudesse se localizar através de um celular ou um simples GPS (Sistema de Posicionamento Global).
Tão importantes no passado e ainda funcionais no presente, os marcos ou estações geodésicas fixados na década de 40 foram, em sua maioria, destruídos. De acordo com o levantamento feito nas últimas vistorias do IBGE, datadas de 1956 à 2004, dos 204 marcos VT do Paraná, 57 já haviam sido destruídos. No Norte Pioneiro e parte dos Campos Gerais, restam apenas 13 em boas condições, que estão em Arapoti (2), Jaguariaíva (1), Sengés (3), São José da Boa Vista (1), Ibaiti (1) e Curiuva (4).
O engenheiro cartógrafo Carlos Genovezi, morador de Jaguariaíva e formado pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), explica que os marcos não devem ser retirados e que representam um ponto de localização precisa, instalado em cada local a partir de informações como altitude, latitude, longitude e até gravidade.
Ele ainda explica que, por se tratar de uma estrutura erguida na propriedade, os marcos devem constar na matrícula das terras que o receberam, mas que na época em que foram construídos, o IBGE notificava o dono das terras, reiteração que não foi passada aos proprietários seguintes, justificando a atual falta de conhecimento sobre os marcos.
Marcelo Costa Napoleão, tecnologista de Informações Geográfica e Estatística da base Sul do IBGE, situada em Florianópolis, explica a importância de preservação de toda estrutura do marco. “Diferente do que muitos pensam, o ponto de referência está na chapa de metal que pode estar anexada em cima ou ao lado do marco, e não da sustentação de concreto em si, por isso a importância da preservação de toda estrutura”, explica.
Vistoria do Exército
Durante seu relato, a proprietária Regina afirmou que, ao menos duas vezes, presenciou a visita de um helicóptero do Exército. Quanto a isso, o Major Carlos Alberto Pires, engenheiro cartógrafo da DSG (Diretoria de Serviço Geográfico) divisão pertencente ao Exército Brasileiro, garante que vistorias dos marcos não fazem parte da prerrogativa do EB, mas que podem ter havido situações em que uma aeronave tenha pousado por detectar que ali havia um ponto de referência preciso.
“O marco dá a precisão centimétrica, enquanto o GPS tem precisão de metros, por isso é considerado um ponto de referência de total confiabilidade”, explica. O Major Pires afirma ainda, que os marcos continuam sendo instalados pelo Exército, como materialização de coordenadas, que baseiam qualquer trabalho de georeferenciamento, delimitações, fronteiras, etc.
Agora quando você esbarrar em um marco geodésico em sua propriedade saiba que ali está um ponto de referência preciso, que pode facilitar e até baratear o custo de uma medição de terras, por exemplo.
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