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Produtos do norte do Paraná entram em lista de proteção no acordo entre Mercosul e União Europeia


Café do Norte Pioneiro foi o primeiro produto agrícola do Paraná a conquistar o selo de indicação geográfica de procedência — Foto: Acenpp/Divulgação

Com três produtos agrícolas com indicação geográfica de procedência, a região norte do Paraná é privilegiada. A indicação quer dizer que o café do Norte Pioneiro, a Goiaba de Carlópolis e a Uva de Marialva são únicos e têm características específicas.


Esse reconhecimento fez com que o grão e as frutas fossem incluídos em uma lista com 36 produtos brasileiros que serão protegidos por um acordo comercial firmado entre o Mercosul e a União Européia.


A medida é uma proteção e impede a reprodução de produtos típicos em outras regiões ou países. Isso quer dizer que o único café do Norte Pioneiro que poderá ser comercializado em países da União Europeia, é o grão produzido em cidades desta região do Paraná.


O mesmo vale para produtos europeus que serão comercializados no Mercosul. O acordo também barra expressões como 'tipo', 'estilo' e 'imitação' na exportação.


O texto do acordo ainda não foi revelado integralmente, deve passar por revisões e depende da aprovação de todos os países envolvidos antes de entrar em vigor.


Café do Norte-Pioneiro


O presidente Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (Acenpp), Luiz Fernando de Andrade Leite, diz que o acordo protege e valoriza as origens da produção e o pequeno produtor.


“Esse acordo é fantástico, preserva as origens, dá ao pequeno produtor a possibilidade de oferecer um produto com história e qualidade”, disse.

O café foi o primeiro produto do Paraná a conquistar a indicação geográfica de procedência. Os produtores iniciaram a processo para conquistar esse reconhecimento em 2008 e a indicação foi dada em 2012.


O produto da região é mais denso, devido a fertilidade do solo e média de temperatura. As plantações também recebem cuidados diferenciados e todos os processos do plantio a colheita são relatados diariamente em um caderno agrícola. Dessa maneira, as empresa que compram os grãos e consumidores têm acesso as boas práticas adotadas do plantio a colheita.


“No exterior há uma valorização muito grande com produtos que têm a indicação de procedência, isso dá confiança. O nosso objetivo é estender esse tipo de pensamento para o mercado interno”, explicou o presidente da Acenpp.


Para valorizar ainda mais os grãos produzidos pelos produtores do norte pioneiro, a Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná estuda a criação de um código de rastreamento que terá todas as informações sobre a produção dos grãos que estão sendo consumidos.


“O café com indicação de procedência é o futuro, sem uma ferramenta como essa vai ficar quase que impossível permanecer na atividade”, conclui Luiz Fernando Andrade.


Goiabas produzidas em Carlópolis são maiores e mais pesadas do que as goiabas comuns — Foto: Cooperativa Agroindustrial de Carlópolis/Divulgação

Goiaba de Carlópolis


Com a única indicação geográfica de procedência do mundo, a goiaba produzida na região de Carlópolis se destaca pelo tamanho, em média tem 11 centímetros de altura –as comuns têm entre 7 e 8 centímetros -, e pelo peso, cada fruta pesa em torno de 300 e 350 gramas – o normal é ter em torno de 200 gramas. Além disso, a goiaba tem uma casca mais verdinha e é mais suculenta.


Características que fazem a fruta ser única. Conquistar esse reconhecimento exigiu uma série de adaptações por parte dos produtores.


“As propriedades precisaram se adequar, os barracões precisaram ser modernizados e os produtores passaram por capacitações. Os talhões foram identificados por quantidade de pé, idade, espaçamento e variedade. Produzimos as frutas ensacadas, o que é o nosso diferencial”, explicou o presidente da Cooperativa Agroindustrial de Carlópolis (Coac), Noriaki Akamatsu.


Os frutos são ensacados quando atingem o tamanho de 1,5 cm. A técnica previne o ataque de insetos e aves, além da baixa dosagem de defensivos.



Para dar ainda mais qualidade, goiabas são ensacadas assim que passam de 1,5 centímetro — Foto: Cooperativa Agroindustrial de Carlópolis/Divulgação


Adequações que valorizaram a fruta que passou a ser produzida na região no início dos anos 70. Mesmo ainda não sabendo o impacto que o acordo comercial terá na renda do produtor, a Associação dos Olericultores e Fruticultores de Carlópolis (APC) analisa o documento com bons olhos.


“Ainda é cedo para estimarmos um preço, mas temos certeza que o valor agregado será maior. O acordo é bom por causa do preço e também para a adequação dos produtores, já que o nível de exigência para exportação será maior”, detalhou Marcus Vinicius Santos Sanches, que é responsável pela compra e venda de frutas da APC.

“O acordo dá mais segurança e proteção ao produto, evita que possamos ser prejudicados comercialmente”, pontuou Noriaki Akamatsu, que cuida de 1.200 pés de goiaba, e produz de 30 a 50 toneladas do fruto por safra.


Uvas produzidas em Marialva têm selo de identificação geográfica de procedência — Foto: Armando Rossato/Prefeitura de Marialva

Uva de Marialva


Fruto tradicional do norte do Paraná, que conquistou mercados em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e em São Paulo, as uvas de Marialva podem estar em ainda mais regiões brasileiras com o acordo comercial.


Diferente dos outros produtos agrícolas que podem ganhar o mundo, a expectativa dos produtores locais é que a uva paranaense deixe de competir com a uva do nordeste e ganhe ainda mais o gosto do brasileiro.


“A uva nordestina, sem semente, é a nossa maior concorrente. Com o acordo, acreditamos que a uva nordestina será vendida para a Europa e a nossa uva voltará a assumir o mercado como era em 2004 e 2005”, explicou o presidente do Sindicato Rural de Marialva, Lindalvo José Teixeira.


Marilva produz uva há 40 anos. São os pequenos produtores rurais que fizeram a cultura ser valorizada e ganhar qualidade. Atualmente, são 500 hectares de plantações e a localização geográfica é o principal diferencial, a uva não perde qualidade ao deixar a roça e seguir para os principais mercados da região sul e de São Paulo.


Teixeira vê o acordo como algo positivo, mas também analisa a medida com cautela. Se de um lado pode favorecer a venda do produto para o mercado interno, por outro pode facilitar a venda de uvas chilenas e peruanas no Brasil.


“A uva chilena é uma grande concorrente, entra no mercado brasileiro nos meses de maio e junho. Precisamos saber como será essa proteção, porque se o acordo é entre o Mercosul e a União Europeia com certeza também vai proteger a uva do Chile”, destacou.


"Temos grandes expectativas com esse acordo, queremos voltar a ser os principais vendedores de uva do Brasil", finalizou o presidente do Sindicato Rural de Marialva.

 

Luciane Cordeiro, G1 PR

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