top of page

Voo Prefixo PP-YPM



Ano de 1949. Finalzinho da década de 40. Começa uma temporada de glamour, de importantes realizações, mas também com fatalidade no último mês do ano. É nele que será orbitada a maior tragédia aérea do Norte Pioneiro, entre as divisas dos municípios de Jacarezinho e Ribeirão Claro. Jacarezinho, uma senhora quase cinquentona, já tinha passado a fase balzaquiana. Com certa maturidade e um encantamento próprio e singular, nesse período, tinha conquistado inúmeras coisas e sedenta por grandes acontecimentos ainda por vir, se encontrava em plena exuberância, com vigor na economia, comércio, indústria, religião e principalmente na área educacional. O gestor político, prefeito Oswaldo Alcântara, liderava a cidade a passos largos. No legislativo, o presidente em exercício Péricles Pereira, substituía Benedito Moreira. A relevância e a pujança de Jacarezinho eram tão expressivas que no Mapa de Rotas da Aviação Civil da Real Aerovias em seu Mapa Histórico de Rotas Domésticas, abrangendo mais de 150 cidades brasileiras, a cidade constava entre as linhas servidas pela empresa. A sua agência de guichê de passagens se encontrava localizada na principal artéria comercial da cidade, a tradicional Rua Paraná, no endereço nº 990, hoje Casa Lotérica Elias. O gerente, à época era Aldo Bertozzi, ali trabalhavam o Luiz Liberto “Bélo”, Nelson Vitali, Mara Bertozzi e outros. O nosso aeroporto local era considerado, pelos especialistas da aviação civil, um dos melhores do Paraná, pela sua localização, visibilidade, segurança, pouso e decolagem. No período de 1946 a 1961, o Douglas DC-3/C-47 foi a aeronave que a Real tinha em maior quantidade em operação, era a espinha dorsal da frota. Muitos aeroportos brasileiros e linhas aéreas foram criadas com o DC-3 e Jacarezinho foi uma delas. O Consórcio Real-Aerovias-Nacional operou nada menos que 99 unidades do modelo DC-3. A aeronave que pousava e decolava em nosso chão jacarezinhense, tinha 19,66 m de comprimento; 28,96 m de envergadura; 5,60 m de altura; 2 x PW motores; velocidade de cruzeiro 240 km/h; capacidade de 28 ou 30 passageiros. A REAL (Rêdes Estaduais Aéreas Limitada) foi fundada por Lineu Gomes e começou com um DC-3 que o próprio fundador pilotava entre Rio e São Paulo. Progredindo com segurança, a Real adquiriu o controle de várias empresas pequenas, em 1954 somava a Aerovias Brasil à sua organização, em 1956 a Nacional Transportes Aéreos, formando a maior frota aérea do Brasil e a sétima do mundo. “Mas, na manhã de 1º de dezembro, a aeronave Douglas DC-3 prefixo PP-YPM decolou do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com destino a Jacarezinho e Londrina, no Paraná. Depois de algum tempo, o ADF (Automatic Direction Finder), equipamento essencial de rádio navegação da época, deixou de funcionar, inviabilizando o voo por instrumentos (IFR). Em razão do imprevisto, o comandante Carlos Alberto Pires Rocha, de apenas 23 anos, decidiu retornar a São Paulo, sede da empresa, sua maior base de manutenção. No entanto, ao sobrevoar Itapetininga, pousou no aeródromo local e entrou em contato com o setor de operações da Real, recebendo orientações para prosseguir em voo visual até Jacarezinho, o que implicava em voar baixo, sob a camada de nuvens. Seguindo a orientação da empresa, o comandante Rocha decolou de Itapetininga e manteve o avião sob a camada de nuvens até às proximidades de Jacarezinho, quando as condições meteorológicas deterioraram-se. Bloqueado pelo mau tempo, decidiu alternar para Ribeirão Claro. Voando baixo, com visibilidade reduzida pela forte chuva, no início da tarde daquele 1º de dezembro de 1949, o DC-3 da Real Aerovias, acidentou-se ao colidir com uma colina, a Serra dos Ruvina, em Ribeirão Claro, Paraná, desintegrando-se. É sabido que o jovem comandante, Carlos Alberto Pires da Rocha, com apenas 23 anos de idade, foi forçado a realizar o voo, mesmo com as condições desfavoráveis. A bordo estavam quatro tripulantes e dezesseis passageiros. Sobreviveram apenas dois dos passageiros.” (Fonte: livro ‘O Rastro da Bruxa’, de Carlos Ari César Germano da Silva). Um dos principais jornais do país, Folha da Manhã de São Paulo, assim publicava no dia 2 de dezembro de 1949, na 1ª página, no alto à esquerda: 16 PASSAGEIROS E 4 TRIPULANTES MORTOS – Caiu no Paraná um avião de carreira. No avião, viajavam passageiros de Jacarezinho, Cornélio Procópio, Londrina e Arapongas. Faleceram no acidente, o piloto Carlos Alberto Pires da Rocha, o copiloto José Galeno Caseti, o navegante João Fonseca, a comissária Sílvia Arlete Moura; passageiros Pedro Fari, Valter Marconi, Guaraci Franco, Irineu Gonçalves Jesus, Carlos Teixeira, Geraldo Magela Lobo, Gabriel C. Franco, João B. Raminelli, Antônio S. Macedo, Henrique P. Manzango, Álvaro G. Mota, Iralva S. Brill, Antônio S. Machado e Teodomiro Ramos. Sobreviventes Lina Machado e seu filho Ivelto Machado, de 5 anos, ambos residiam em Santo Antonio da Platina, PR, e depois se mudaram para Curitiba. Passados mais de 67 anos, ainda pairam dúvidas no ar, o que de fato aconteceu? Ninguém até hoje soube realmente precisar o trágico acidente. O aparelho que registrava e armazenava os códigos nele existentes, que se assemelha a caixa preta de hoje, nunca foi encontrado, o que poderia elucidar o desastre. Mas, algumas coisas não ficaram dúvidas, anos depois a Real foi adquirida pela Varig, deixando de existir; o nosso aeroporto tão importante para a cidade e região, infelizmente aos poucos foi sendo invadido de casas à beira da pista e ao seu redor; com isso, o local de pouso e decolagem de grandes aviões foi interditado pela ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil). No lugar hoje, onde era a extensão da pista, encontra-se um conjunto habitacional, Jardim Paraíso. Aviões de carreira em Jacarezinho, só em fotos antigas ou saudosas lembranças daqueles que vivenciaram o passado ou quando alguém vê no céu, cruzando o nosso espaço aéreo, aquelas máquinas voadoras fantásticas que sempre encantaram e continuam a encantar as crianças e adultos. * Vicentinho é Licenciado em Historia e Bel. em Direito.

Já nos segue nas redes sociais: Instagram, Facebook, Twitter e Youtube

bottom of page